quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Defunto Pensante


    Era uma vez uma pequena e pacata cidadezinha cujos moradores não estavam nem aí para as campanhas de doação de sangue realizadas pelo modesto hospital local. 
    Um belo dia um cidadão morreu justamente pela falta desse precioso líquido vermelho, que estava em falta na instituição devido ao fato da cidade estar em débito com o Banco de Sangue localizado no Hemocentro mais próximo. 
    Apareceu então uma porção de gente querendo aparecer em cima da situação: a família do defunto ficou revoltada e ameaçou processar meio mundo, os locutores esbravejaram nas rádios locais que a situação da saúde da cidade estava crítica, os jornais publicaram extensos editais sobre a precariedade do SUS, os políticos jogaram a batata quente pra frente e o povo foi fazer o que de melhor sabia fazer, que era futricar na rua. 
    Mas, e o cadáver? O cadáver continuou lá, deitado quietinho numa maca fria e coberto por um lençol branco, pacientemente aguardando seu velório e sepultamento, pensando que se alguns desses filhos da puta que tanto falam agora tivessem ido doar seu precioso sangue antes, nada disso estaria acontecendo...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Padre

 LUCIF...
    O garoto com a lata de spray preto terminava sua pichação na parede de pedra do lado de fora da Igreja Matriz da pequena cidade onde vivia.
    - Anda logo... acho que ouvi um barulho - sussurra o outro rapaz, de costas para ele, responsável por vigiar a viela que cortava a lateral do edifício.
    - Tá quase, tá quase... Pronto!
    Ambos se afastam um pouco para admirar a obra: um pentagrama todo torto, de cabeça para baixo, ao lado da palavra Lúcifer (escrita sem acento e com maiúsculas, revelando a baixa qualidade do ensino fornecido aos jovens - mesmo os rebeldes - de hoje).
    O responsável pelo escrito saca da mochila uma câmera digital e um flash ilumina por um breve instante a noite escura e silenciosa, registrando o grande feito da dupla para a posterioridade. Era madrugada de domingo e a ideia era surpreender os fiéis logo na primeira missa da manhã. Eles já iam batendo em bem-sucedida retirada quando uma voz seca e firme os fez pararem, estatelados:
    - ESPEREM!
    Voltaram-se para trás. Sabiam que deviam ter corrido com todas as forças, mas por algum motivo desconhecido não o fizeram. A palavra "congelados" serviria muito bem nesse momento. 
    Uma figura pálida e esguia, de batina preta e colarinho branco os encarava com censura nos olhos. Não era o padre da paróquia, e pra dizer a verdade, não se parecia com nenhum dos padres que atuavam na cidade. Eles não se lembravam de já o terem visto por aí antes. Fitavam o homem, assustados, enquanto esse fazia sutilmente um gesto negativo com a cabeça.
    - Tsc, tsc... Não é assim que a coisa funciona, meus filhos... - os jovens se entreolharam assustados com o sinistro timbre de voz. - Não é assim que se faz MESMO!
    - Você viu...? - balbuciou um para o outro, aterrorizado perante as oscilações de cor dos olhos da criatura a sua frente, que ia do amarelo ao vermelho, passando pelo púrpura.
    - São anos e mais anos agindo na surdina, comendo pelas beiradas, vocês acham que é alguma vantagem para nós escancarar as coisas desse jeito?
    Se fosse possível perguntar por mais detalhes a algum dos rapazes, eles jurariam que havia uma cauda pontiaguda dançando atrás de seu interlocutor, podendo ser vista por sobre seus ombros, apontando para cima, bem como os chifrinhos protuberantes em sua testa. E o cheiro? Enxofre puro. Embora eles nunca tenham sentido cheiro de enxofre, sabiam que aquilo era enxofre.
    - Voltaremos a nos encontrar um dia. Pode ser logo ou pode demorar, mas guardem bem isso: nos veremos novamente. Se quiserem que seja logo, basta repetirem o erro de hoje - e, dizendo isso, o sinistro padre desapareceu num estalo rápido. 
    Quando voltaram a si, o primeiro garoto ainda estava com o spray na mão, instantes antes de começar a desenhar. O outro havia acabado de se colocar a postos para vigiar. Soltaram um grito estridente antes de saírem correndo, deixando pra trás a mochila com a câmera, a lata de tinta e muitas de suas convicções.

FIM

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O "Loquinho" (ou Feliz Dia do Amigo)


Já a alguns dias penso em escrever algo bem bonito para o dia do amigo, aí eu imaginei em um monte de coisa, em postar citando o nome de um ou outro, mas as ideias acabaram me escapando e eu acho que no fim eu acabaria sendo injusto se colocasse o nome de alguns e esquecesse de outros... meus amigos e amigas de verdade sabem quem são, e os que não são sabem também. Mas aí me veio agora na cabeça ahistória do "loquinho" e eu vou compartilhar ela com vocês.

O "LOQUINHO"

    Era uma vez um "loquinho" que andava pela cidade feliz e saltitante (igual a uma rena no cio) repetindo infinitamente "Eu vô... eu vô... eu vô...". 
    A única coisa que o "loquinho" falava era isso. Perguntavam-lhe as horas e ele respondia: "Eu vô... eu vô... eu vô...". 
    Queriam saber onde ele morava, e eis a resposta: "Eu vô... eu vô... eu vô...".
    Um belo dia o "loquinho" passou perto de um cara que não estava nos seus melhores dias repetindo "Eu vô... eu vô... eu vô...", e o sujeito - tomado por um acesso de fúria repentino - berrou para o "loquinho": "VOCÊ NÃO VAI NADA, SEU LOUCO!".
    A partir desse momento a vida do "loquinho" mudou. Depois desse dia ele só era visto andando cabisbaixo por aí, repetindo sem parar "Eu num vô... eu num vô... eu num vô...".

FIM

    Bom, é isso. Como seu amigo, depois dessa historinha, meu maior desejo é que ninguém jamais lhe diga que você não vai. Ou qualquer coisa semelhante. 
Feliz dia do amigo!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Artimanhas Políticas


    Você sabia que o sistema brasileiro de escolha dos administradores e legisladores públicos se divide em majoritário e proporcional? Pois é, pois é, pois é... 

    Veja só: no majoritário, é eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos em determinada circunscrição eleitoral. No Brasil, os governadores, prefeitos e o presidente da República são escolhidos através do sistema majoritário por maioria absoluta, com possibilidade de segundo turno. Senadores também são eleitos majoritariamente, mas por maioria simples, sem possibilidade de segundo turno.

    Já os vereadores (ATENÇÃO PACATA JACUTINGA) e deputados estaduais e federais são escolhidos por meio do sistema proporcional, quando o número de cargos eletivos é distribuído na proporção dos votos recebidos pelos diferentes partidos e coligações em cada eleição. Funciona da seguinte maneira: divide-se o número de votos conquistados por cada legenda ou coligação pelo quociente eleitoral, que por sua vez é o resultado da divisão do total de votos válidos pelo número de cadeiras a serem preenchidas. O resultado se chama quociente partidário, que nada mais é do que o número de vagas que cada agremiação política ocupará nas diferentes casas legislativas.

    Trocando em miúdos: quanto mais votos um partido ou coligação tiver, mesmo que concentrados em um candidato apenas, mais políticos este partido ou coligação irá eleger. Na prática, isto significa que, antes de votar em um candidato a vereador, o eleitor vota em uma legenda, isolada ou coligada. 

    É aí que entra o Chapa-Coco. Se você acha que ao votar nessa popular figura jacutinguense estará expressando toda a sua revolta com nosso atual cenário eleitoral e sendo o supra-sumo da rebeldia política, saiba que seu voto (e mais o de uma porção de desinformados) servirá apenas para eleger outros candidatos que precisam se valer dessa estratégia (na minha opinião antidemocrática) para se elegerem.

    Sinceramente, eu não dou a mínima pra quem você vai votar (ou não). O que realmente faria diferença para mim é que você o fizesse com plena consciência dessas "artimanhas" políticas que querem a todo custo que você desconheça. 

    Sem mais...


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Imitando GEENA - Começaram as vendas!


Todo mundo sabia que eu andava ocupadíssimo com os detalhes finais para o lançamento do meu primeiro romance policial, Imitando GEENA
    Sim, faz bastante tempo que eu estou martelando nessa tecla por tudo que é canto: Facebook, Orkut, Youtube... tem gente que já deve estar pra lá de enjoada disso. Mas vocês acham que é fácil tirar um projeto desses do papel? Ou, melhor ainda, colocá-lo no papel?             
    Se eu estivesse sozinho nessa, com certeza seria mais rápido, mas em contrapartida sairia de qualquer jeito. 
    Felizmente eu não estava sozinho e sempre tenho o prazer e a sorte de poder contar com meu fiel amigo de todas as horas, Pedro Souza Pinto, que além de corrigir e revisar minha obra, conseguiu uma capa profissional e linda feita pelo Adamo Alighieri, cujo trabalho você confere aqui http://aareis.com.br/ . 
    Poucos dias antes do livro ser publicado, resolvi retirá-lo do Recanto das Letras, mas agradeço a todos que acompanharam desde o começo o que a princípio era uma "webnovela", com um capítulo sendo solto por dia. Foram quase TRÊS MIL leituras, média de aproximadamente quarenta para cada um dos sessenta e oito capítulos. 
    Quem, por qualquer que seja o motivo, não pode ler, agora terá a chance de adquirir o livro em "carne e osso", ou baixá-lo em formato E-book aqui: http://www.clubedeautores.com.br/book/127752--Imitando_GEENA
    Muito obrigado a todos os amigos e colegas escritores que acompanharam essa jornada, que culminou no sonho de ter um livro publicado sendo realizado!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Divagações (A)Temporais


    Nada como observar a ação do tempo sobre a existência. 
    A bem dizer, o que é o tempo
    Uma força superior dotada de inteligência e responsável por "colocar os pingos nos Is" de tudo o que acontece? 
    O destino, fazendo com que o que é seu chegue até você na hora certa, ou arrancando, sem dó nem piedade, o que você acha que lhe pertence das suas mãos?
    Um aliado?
    Um inimigo?
    Talvez ele (o tempo) seja tudo isso e muito mais. 
    Talvez não. 
    Existe a possibilidade de isso que chamamos conveniente de TEMPO e achamos que está passando neste exato momento bem debaixo do nosso nariz nem ao menos exista, e quem na verdade está passando somos nós, cada dias mais velhos, sem saúde e cabeças duras a caminho do final inevitável.
    O que eu já percebi é que qualquer que seja a sua crença, em algum momento você terá aquilo que merece, seja lá isso bom ou ruim para você.
    Mas isso, só quem vai dizer, é o tempo
    Ou não...