quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Defunto Pensante


    Era uma vez uma pequena e pacata cidadezinha cujos moradores não estavam nem aí para as campanhas de doação de sangue realizadas pelo modesto hospital local. 
    Um belo dia um cidadão morreu justamente pela falta desse precioso líquido vermelho, que estava em falta na instituição devido ao fato da cidade estar em débito com o Banco de Sangue localizado no Hemocentro mais próximo. 
    Apareceu então uma porção de gente querendo aparecer em cima da situação: a família do defunto ficou revoltada e ameaçou processar meio mundo, os locutores esbravejaram nas rádios locais que a situação da saúde da cidade estava crítica, os jornais publicaram extensos editais sobre a precariedade do SUS, os políticos jogaram a batata quente pra frente e o povo foi fazer o que de melhor sabia fazer, que era futricar na rua. 
    Mas, e o cadáver? O cadáver continuou lá, deitado quietinho numa maca fria e coberto por um lençol branco, pacientemente aguardando seu velório e sepultamento, pensando que se alguns desses filhos da puta que tanto falam agora tivessem ido doar seu precioso sangue antes, nada disso estaria acontecendo...