sábado, 23 de agosto de 2008

Você! Você! Ou tooooooooodos vocês!

Cuidado!
A alma levada no fim deste post pode ser a sua!


Brincadeiras a parte, são várias as expressões que podemos usar quando descobrimos que algo em que acreditamos está errado:
Pagar a língua, quebrar a cara, etc.

Bom, na verdade nem são tantas assim, tentei me lembrar de mais algumas mas fiquei só nessas duas mesmo...

O caso é que isso aconteceu comigo, e antes que seja tarde demais vou me retratar...
A resenha de hoje não falará especificamente de um filme, mas da obra conjunta (ou pelo menos a parte dela que eu tive a chance de conhecer) de José Mojica Marins, o Zé do Caixão.

Sempre tive a impressão de que ele pendesse mais para o lado do terrir do que do terror. Fui levado a este preconceito basicamente graças as minhas lembranças de suas participações bizarras em programas de TV (como quando resolveu cortar as enormes unhas ao vivo no SBT) ou como o "anfitrião" do extinto Cine Trash da BAND, onde o diretor/ator/roteirista jogava suas pragas sobre os telespectadores e apresentava filmes que eu adorava (e ainda adoro) tais como Fome Animal, Palhaços Assassinos do Espaço, Halloween 5, A Ilha dos Homens-Peixe dentre outras pérolas.

Pra mim o cara era meio que uma peça de museu, um tiozão esquisito que devia ter tido lá seus dias de glória com filmes populares, obscuros, vagabundos e antigos em preto e branco.
Valia mais como curiosidade do que qualquer outra coisa.

Ledo engano, meus caros...


Recentemente entrei em contato com a obra do Mestre (mais precisamente adquiri um BOX com seis de seus mais expressivos filmes) e posso afirmar sem medo:
Zé do Caixão é o maior cineasta brasileiro de todos os tempos.
Ponto.
Não tem pra ninguém!

Seus filmes foram erroneamente taxados de trash por críticos invejosos, pigmeus frente a um gigante.

A censura da época mutilava seus filmes sem dó nem piedade (o tipo de corte que nenhum fã de terror gosta), obrigando o diretor a eliminar cenas e diálogos fundamentais para suas tramas. Ele sempre arrumava um jeito de costurar o roteiro (e mesmo sequências já filmadas) de tal maneira que tais atrocidades passavam desapercebidas mesmo ao mais atento.
Mojica não pode ser taxado de nada menos que brilhante no exercício de seu ofício.
Suas películas não possuem um só furo.

E mais, o sujeito está na vanguarda do cinema de terror/horror em vários sentidos.

Acompanhem só:

- Freddy Kruegger, Jason Voorhees, Chucky e Michael Myers sempre terminavam seus filmes mortinhos da Silva pra depois voltarem com toda a força no capítulo seguinte. Pois bem, a aproximadamente vinte anos antes dessas figuras enlatadas voltarem do quinto dos infernos, Zé do Caixão já realizava a façanha!
E com uma explicação plausível, sem deixa nenhuma e sendo um humano normal;

- O que se dizer da realização de PreQuels (as famosas pré-sequências, histórias que ocorrem cronologicamente antes das que foram filmadas primeiro - como os episódios I, II e III de Star Wars, ou Hannibal Rising.). Mojica só revelou os pormenores do passado de seu personagem muito tempo depois do lançamento de seus dois primeiros filmes;

- Torture-Porn, gênero de terror/suspense muito em voga atualmente (vide O Albergue, Jogos Mortais, Torturados) é cria do diretor brasileiro.

Em sua câmera, percebe-se clara influência de outros gênios como Alfred Hitchcock, Fritz Lang e Charles Chaplin. Influência, não cópia descarada ou plágio. Mojica tem sua personalidade própria, por assim dizer, e não acho que seja absurdo dizer que ele mesmo acabou influenciando alguns outros cineastas de renome (só assistindo seus filmes pra notar, mas eu tenho a impressão que o próprio Hitchcock bebeu dessa fonte, muito bem acompanhado por Martin Scorcese, Francis Ford Coppola, Roman Polawski). Mas isso são teorias minhas, nem sei se naquele tempo suas obras chegavam a sair do Brasil. Posso estar vendo chifre em cabeça de cavalo, cabelo em ovo, boa vontade em político...

No fim das contas é triste saber que um artista desse gabarito só foi melhor aceito e reconhecido por aqui após ser descoberto pelos gringos (na terra do Tio Sam nosso Zé do Caixão virou Coffin Joe).

Os brasileiros, infelizmente, não podem reclamar quando são acusados de preferir comer bosta importada ao invés de um arroz-com-feijão bem feito. O novo filme de José Mojica Marins, A ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO (a última parte da triologia iniciada a quase quarenta anos atrás com os filmes A MEIA NOITE LEVAREI A SUA ALMA e ESTA NOITE ENCARNAREI NO SEU CADÁVER) apesar de ter conseguido críticas positivas e vários prêmios em festivais de cinema, não está tendo uma bilheteria a altura do espetáculo.
Pior (não sei ao certo se isso é muito ruim ou bom demais): nem pirateando o filme estão!

Se não houver luz no fim do túnel para o terror nacional, vou continuar assistindo no escuro mesmo. E não digo isso por ser uma questão de pseudo-nacionalismo barato não, o que acontece é que Zé do Caixão é o cara do terror!

Sempre foi, aliás, eu é que não sabia...

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