quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Coisas Feias

Pra quem não sabe, eu trabalho em um hospital. Mais precisamente na recepção e na farmácia.
Ao contrário do que sugere minha remuneração, eu exerço duas funções!

Vira e mexe vem alguém e me pergunta qual foi a coisa mais feia que já vi.

Obviamente que quem pergunta isso está querendo saber sobre coisas graficamente feias, e é claro que eu não decepciono:

Sem dar nome aos bois (o que seria totalmente anti-ético) eu descrevo com riqueza de detalhes as fraturas expostas, lesões purulentas, miíases, amputações e demais carniçarias e atrocidades que já presenciei.

Nesse sentido, a coisa mais feia que já vi foi quando fui levar uma medicação que seria aplicada num lavrador que deu entrada no Pronto Socorro após ter a mão puxada para dentro de um moedor de cana.
A pele foi arrancada como quando estamos tirando uma luva e ficou pendurada pelo avesso nas pontas dos dedos que sobraram, com ossos, tendões, veias e nervos expostos.

Existem basicamente três tipos de "coisas feias" pra se ver em um hospital.

A primeira delas é esse lado GORE que eu disse acima:

O sangue jorrando, tripas, ossos e miolos expostos, cadáveres sendo levados para o necrotério...

Outro tipo de coisa nada agradável de se tomar conhecimento (e por vezes participar) é o DRAMA dos pacientes e seus familiares:

Gente que sabe que não há mais nada o que se fazer por seu pai ou mãe e vem os visitar pela última vez;
Pessoas que sentem que não lhes resta muito mais tempo de vida e aguardam serenamente (ou não) seu fim;
Mães e pais que perdem seus filhos e não sabem lidar com a dor, pela qual jamais esperavam ter que passar;
Criaturas desiludidas que esperam por um milagre que talvez não aconteça.

Por fim vem a última (mas não menos feia) categoria.

São os famosos PITIS:

Homens com idade para serem vovôs simulando dores agonizantes para obter um pouco de atenção;
Marmanjos barbados fingindo uma convulsão sem volta pq acabaram de tomar um pé na bunda;
Menininhas mimadas que surtam após serem traídas por seus namorados e reatam três dias depois;
Falsas tentativas de suicídio do tipo tomar 50 doses de Vitamina C ou cortar os pulsos mais de leve do que eu quando faço a barba;
Bebedeiras que se tornam ataques cardíacos ou derrames cerebrais na leiga opinião de quem trás o paciente.

Trabalhar em um hospital não tem só essas coisas feias não, acontecem muitas coisas legais também...

Mas esse post não é sobre elas:

Contente-se com essas coisas feias que eu escrevi!

sábado, 20 de setembro de 2008

Eleições 2008


Talvez seja assim em todo lugar, mas eleições municipais em uma cidadezinha como a minha são um barato!


Tipo, qual a chance do atual ou futuro Presidente da República ou Governador do Estado vir bater na porta da sua casa, entrar, tomar um suco, refrigerante ou cafezinho, bater um papo e, claro, contar contigo no dia 1° de Outubro?


Desses encontros acabam saindo momentos impagáveis.


Você sabe que o sujeito está ali única e exclusivamente para pedir seu voto. Ele (que não é tonto nem nada) sabe que você sabe disso.


E você sabe que ele sabe que você sabe o motivo da visita!


Fica aquela troca de sorrisos amarelos, aqueles comentários típicos de falsa intimidade:


"O que você anda fazendo da vida?", "Poxa, você sumiu! Ou fui eu?" ou ainda o clássico "Nossa, parece que você engordou um pouquinho!".


Pra este último, um amigo meu deu uma resposta que me fez rachar o bico de rir (por conhecer ambos os envolvidos, claro):


"Não tanto quanto você!".




Nas eleições municipais escolhemos o futuro prefeito (o/a vice vem de brinde) e vereadores, e numa cidade pequena há muito mais chances de se conhecer os candidatos, se é que já não conhecemos!


E quando eu digo conhecer é conhecer mesmo, pessoalmente!


Alguns são antigos colegas de escola, companheiros de trabalho, vizinhos e até parentes.


Aí é que a coisa começa a complicar...


Você, sinceramente, votaria no seu primo, chefe ou naquele amigão da escola para vereador?


O correto mesmo é deixar o lado pessoal de fora (algumas pessoas não tem o rabo preso).

Avaliar uma a uma as opções, sem preconceitos, buscando apenas o bem coletivo.


É sábio lembrar que os eleitos terão sobre seus ombros o dever e a responsabilidade de administrar da melhor maneira uma cidade para todos os seus habitantes (inclusive aqueles que votaram contra, por assim dizer...), não apenas para uma corja de vermes lambedores e puxa-sacos que infelizmente existe em todos os lugares.


Utopia?

Talvez...


Mas cabe a nós escolher!


Quem são os mais preparados para os cargos?


Os mais honestos?


Idôneos?


Íntegros?


Escolha bem...


Melhor ainda, DECIDA bem!

Escolha me sugere acaso...


Decida quem vai zelar por você e seus próximos pelos próximos quatro anos.





A título de curiosidade:

Pela primeira vez em dez anos, não vou votar.

Inventaram de marcar essas eleições bem no dia seguinte ao casamento da minha prima!

Pra evitar correria (a festança será em São Paulo) eu e minha família vamos ficar por lá mesmo no domingo, comer a lazanha da vovó e voltar após o entardecer.


Aos que ficam, eu sugiro que votem com consciência.


Esqueçam promessas absurdas de campanha, palavras dadas em troca de favores (futuros ou não), medo de perder alguma coisa, aquele sentimento de dever obrigação para alguém...


O voto é secreto.


Na hora H são só você e a urna.


E ela é discretíssima!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O Preço da Omissão

Este Blog está de luto.


Quem me conhece sabe que eu não sou de me chocar fácil, mas o assassinato dos irmãos Igor Giovani Rodrigues e João Vítor Rodrigues (doze e treze anos respectivamente) em Ribeirão Pires me deixou com um nó na garganta.



Principais suspeitos: O PAI e a MADRASTA das vítimas.



Na véspera do crime os meninos procuraram a Guarda Civil atrás de socorro.



Omitiram-se também os vizinhos (que a anos sabiam que os dois eram torturados em casa), o Conselho Tutelar (que os mandou de volta para casa), a psicóloga e a assistente social (que não acreditaram neles), os parentes mais próximos (que faziam vista grossa as agressões), e por aí vai...



Num país onde omissão e impunidade andam de mãozinhas dadas, só me resta torcer para que realmente exista algo além dessa nossa vida: Um lugar onde Igor e João Vítor possam finalmente viver em paz, e outro para que todos os envolvidos tenham tempo de sobra para pagar e refletir sobre suas ações. Ou falta delas...



Sem mais.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Os Heróis não tem Idade (Cloak & Dagger)

Gravei este filme da televisão em 1988.
A fita, infelizmente, não sobreviveu ao mofo ou a um vídeo cassete mastigador.
Quando eu e alguém conhecido falamos sobre filmes (e inevitávelmente chegávamos a sessão "lembra desse?"), Os Heróis não tem Idade é um dos que eu cempre cito. Não fosse por meu irmão, acho que estaria sozinho no mundo. Ou que o filme não tivesse passado de uma alucinação minha.
Felizmente, nem uma coisa nem outra!
O filme finalmente foi disponibilizado em DVD e eu, é claro, não poderia deixar de acrescentá-lo a minha coleção. Por coincidência, a poucos dias atrás antes de eu saber que o DVD finalmente ia sair, meu irmão me perguntou se ele (o filme) não existia em DVD pois queria ver de novo.
Foi interessante a experiência de rever Cloak & Dagger tantos anos depois.
Continuo gostando do filme, talvez mais ainda agora, mas foi diferente do que eu achava que seria...
Vou evocar meu Eu aos oito anos de idade pra falar um pouco do filme agora:
O filme mostra um garoto (ajudado por um amigo imaginário) que acaba recebendo sem querer um cartucho de videogame contendo informações secretas e tem que escapar dos caras "do mal" que querem a fita de volta.
Obrigado, Anselminho, pode voltar pra... pro... ah, sei lá, some daqui!
Vá torturar insetos, fazer guerrinha com bagaço de mexerica, desenhar desmembramentos ou terminar de construir sua máquina do tempo com aqueles restos do velotrol cor de laranja...
Descrição simples, não?
Vejamos agora o que o Eu Atual, do alto dos meus quase trinta anos de idade, tem a falar:
Mais do que uma aventura infanto/juvenil, Os Heróis não tem Idade é um ritual de passagem da infância para a adolescência (fase da vida meio que ignorada pelo cinema, que prefere explorar a passagem para a vida adulta).
É sobre a época em que precisamos deixar nossos brinquedos, brincadeiras e heróis de lado para começar a abrir nossa percepção para o mundo real.
Descobrimos que David (vivido por Henry Thomas, mais conhecido como Elliott - o garotinho do filme E.T.) acabou de perder sua mãe e vive num mundo de fantasia, onde uma simples ida a uma loja de videogame se torna uma missão perigosíssima, digna de um James Bond, Ethan Hunt, Jason Bourne ou melhor ainda: Jack Flack, o herói favorito de David e seu amigo imaginário nas horas vagas.
Descontando o espião de faz-de-conta, David só possui dois amigos: Um nerd barbudo da loja de eletrônicos (que é a cara do Richard Dreyfuss no primeiro Tubarão) e sua vizinha Kim, uma branquelinha da mesma idade de David e que vive passando vergonha graças a mania do garoto de transformar tudo em aventura.
O relacionamento de David com seu pai também não é dos melhores: a morte da mãe/esposa acabou por distanciar os dois, e o pai não sabe o que fazer para ajudar a apaziguar o sofrimento do filho que cada vez mais perde o contato com a realidade. E o pior é que todas as suas iniciativas (como proibir jogos de videogame ou contratar um psicólogo) acabam por afastá-los ainda mais. Não por menos a melhor sacada do casting do filme: Tanto o pai do moleque como seu herói Jack Flack são vividos pelo mesmo ator. Em diferentes momentos, um acaba suprindo a necessidade do outro.
Mas essa é a análise fria do filme.
Falando assim, até parece um dramalhão...
Não é!
A coisa complica para o lado de David quando durante uma de suas "missões" (pegar panfletos da loja do amigo nerd e bolinhos na máquina de doces) ele acaba testemunhando um assassinato de verdade e de lambuja recebe das mãos da vítima moribunda um cartucho de videogame contendo a planta de um avião invisível aos radares.
Obviamente ninguém acredita nele, os assassinos limpam todos os vestígios do crime antes da polícia chegar e partem para recuperar o game.
Involuntariamente David acaba envolvendo seus únicos dois amigos na aventura. Felizmente ele pode sempre contar com a ajuda e experiência de Jack Flack.
Ao fim do filme fica bem claro quem são os verdadeiros heróis e que não há problema algum neles contarem com uma forcinha dos seus próprios heróis imaginários quando a situação realmente aperta!
Reassistir a este clássico (pra mim é um clássico e pronto e acabô!) me deixou com um sorrisão de orelha a orelha, o que me fez pensar que o Anselminho lá de trás, de uma certa forma, fez um trabalho decente com aqueles pedaços do velotrol...