sábado, 31 de julho de 2010

Dona Izildinha


Rezava a lenda que Dona Izildinha passara já a algum tempo dos cem anos de idade. 
Solteirona convicta, sua existência limitava-se basicamente a acompanhar da fresta da janela que dava para a rua a vida de todos os vizinhos e reclamar deles para o leiteiro, o padeiro, o carteiro e qualquer outro que fosse por algum motivo ter com ela. 
Tinha todas aquelas famas comuns ao seu estereótipo: Bruxa, macumbeira, mal-comida na juventude (claro, nos dias atuais isso estava fora de questão, embora tenha louco pra tudo nesse mundo...) e daí por diante.
Muito estranharam os jovens da casa da frente que falavam alto na calçada, já tarde da noite, e ouviam o bom e velho rock'n roll quando Dona Izildinha saiu com uma bandeja cheia de copos descartáveis com o mais cheiroso chocolate quente que eles já tinham visto na vida. O normal, vindo dela, seria uma ligação para o 190.
Sorveram tudo, até a última gota. Delicioso, espumante, espesso e tendendo mais para o amargo que para o doce. Perfeito para aquela noite fria.
Dona Izildinha entrou de volta em sua residência, passou um pano na bandeja e da sua frestinha ainda pode ver alguns dos últimos jovens estrebuchando no chão, soltando sangue por todas as vias possíveis de seus organismos enquanto urinavam e defecavam nas roupas. 
A falação cessara, a única coisa que quebrava o silêncio da noite era o bom e velho rock'n roll.


FIM


Este texto foi imaginado, escrito e publicado por mim originalmente aqui: http://recantodasletras.uol.com.br/microcontos/2409443
Agradeço se você puder apreciá-lo também no Recanto das Letras, uma vez que lá tenho a opção de contabilizar as leituras! Obrigado!




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