sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Pior História de Terror do Mundo Jamais Contada



... e então o casal gritou, foram as crianças que tinha sido assassinadas!
Todos ao redor da fogueira surpreenderam-se com o fim da história.
Eram três casais acampando perto de uma cachoreira. Uma churrasqueira improvisada com tijolos ia deixava a carne ao ponto e enquanto isso eles divertiam-se contando histórias de terror. Acabara de terminar a terceira da noite.
- Gente... eu tenho uma boa...
- Então conta - pediram algumas vozes em coro.
- Não é tão simples assim... é uma história muito feia mesmo... terrível. Não sei se é verdadeira ou não, algumas pessoas juram que aconteceu mesmo, outras dizem que é tudo invenção... só sei que eu quase me borrei quando ouvo.
- Então conta logo!
- Tem certeza que querem mesmo ouvir?
- Sim - dizem alguns, outros assentem com a cabeça.
- Mas eu já vou avisando que é muito feia mesmo... eu que não sou de me impressionar tive pesadelos depois de ouvir.
- Já tô ficando com medo - diz uma garota magra, apertando-se contra o namorado com quem já estava de braços dados.
- Sobre o que é?
- Ah, só conforme eu for contando que vocês vão descobrir... senão perde completamente a graça.
- É sobre vampiros?
- Não.
- Lobisomens?
- Não.
- Zumbis?
- Não.
- Assassinos, fantasmas, lendas urbanas, animais assassinos, serial-killers, palhaços, tortura?
- Nada disso... é sobre uma coisa que a princípio não tem nada de aterrorizante mas conforme as coisas vão se desenrolando fica assustadoramente insuportável.
- Conta logo então!
- Certo, eu conto. Mas com a condição de que todo mundo aqui concorde em ouvir. E aviso pela última vez: É uma história de terror MESMO, horrível... Eu tô com ela na cabeça até hoje. Querem mesmo?
Todo mundo faz que sim com a cabeça, menos uma loirinha. Ela diz:
- Larga a mão disso... Não quero saber!
Ela toma uma vaia, levanta contrariada e vai para sua barraca. Seu namorado vai logo atrás, depois de lançar um olhar recriminador para os outros.
Uma outra moça diz para o namorado:
- Precisava ter vaiado ela? A coitada magoou...
- Ah, quem mandou ser fresca?
- Então quer dizer que se fosse eu que ficasse com medo e não quisesse ouvir você não ia me apoiar? Tá bom, pode deixar - ela se levanta e vai para a outra barraca. Seu namorado, depois de um olhar abobalhado para o casal remanescente vai atrás dela.
- Viu o que você fez? - pergunta a última moça, namorada do cara que ia contar a história.
- Mas...
- Não tem nada de "Mas..." não! Sobrou pra nós dois vigiarmos a churrasqueira, acabou a noite! Seu sem graça...
E assim a pior história de terror do mundo acabou não sendo contada.


FIM


Este texto foi imaginado, escrito e publicado por mim originalmente aqui: http://recantodasletras.uol.com.br/contosdesuspense/2434949
Agradeço se você puder apreciá-lo também no Recanto das Letras, uma vez que lá tenho a opção de contabilizar as leituras! Obrigado!


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Tanto fez, tanto faz...



Todos os dias, perto do ponto onde eu pegava o ônibus para voltar para casa, ficava sentado um mendigo bem velhinho, de olhos claros, barba e cabelos brancos. Desde a primeira vez que o vi simpatizei com ele, e notei pelo seu olhar que o sentimento fora mútuo.
Foi num dia como outro qualquer que ele chegou até mim (eu sempre estava sozinho no ponto) e perguntou?
- Moço... você tem um real?
Eu sorri, apanhei uma moeda que tinha no bolso e entreguei para o ancião. Ele apanhou o dinheiro, agradeceu, baixou os olhos e perguntou:
- Moço... o Sr. é Deus?
- Não... - respondi meio abobado, até então nunca tinha notado sinais de que ele tinha alguns parafusos a menos.
- Ah... Seu ônibus chegou! - me disse ele então. Eu entrei e parti.
Desse dia em diante essa história passou a se repetir sem muitas variantes. 
Todos os dias ele vinha até mim, me pedia um real, eu dava ou não (passou a ser um hábito deixar o real dele separado quando eu tinha), ele me perguntava se eu era Deus, eu respondia que não, ele avisava que meu ônibus estava chegando e eu ia embora.
Foi dentro do ônibus num belo fim de tarde aquilo começou a me intrigar. "Na próxima eu pelo ele!", pensei comigo.
No dia seguinte, na mesma hora, no mesmo local, a história ia se repetindo. Ele veio até mim.
- Moço... você tem um real?
- Aqui está! - sorri e lhe entreguei a moeda.
- Moço... o Sr. é Deus?
- Sim!
- Ah... Seu ônibus chegou!
Eu entrei e parti.


FIM


Este texto foi imaginado, escrito e publicado por mim originalmente aqui: http://recantodasletras.uol.com.br/contoscotidianos/2426976
Agradeço se você puder apreciá-lo também no Recanto das Letras, uma vez que lá tenho a opção de contabilizar as leituras! Obrigado!