quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Esperteza


Um belo dia o fazendeiro acordou e viu a porta do galinheiro escancarada. Espiou lá dentro e viu penas pra todo lado, ovos quebrados, sangue e os moradores remanescentes todos empoleirados com olhos mais arregalados do que o habitual.
Sua conclusão foi imediata: Uma raposa!
E estava certo pq, na mesma noite, viu o bicho. Tinha colocado uma cadeira na varanda e ficou lá esperando um novo ataque, de espingarda na mão. Na hora H, entretanto, não conseguiu apertar o gatilho. A visão do patético animal (magricelo e narizudo) o comoveu.Seria um tiro certeiro no meio dos olhos da criatura a melhor solução?
Não, não seria, pensou o fazendeiro.
A coitada da raposa não tinha outra alternativa para não morrer de fome a não ser agir de acordo com sua natureza oportunista. Incapaz de caçar com aquele seu corpinho esquálido, tinha que se contentar em pegar presas indefesas de surpresa, antes que elas soubessem qualquer coisa a seu respeito ou seria tarde demais...
O fazendeiro apenas agitou os braços para espantar o animal.
Nas noites que se seguiram ele mesmo pegava dois ovos e deixava para fora do galinheiro. A raposa vinha sempre pontualmente e os carregava para o mato, onde matava a fome.
E assim foi por um tempo, até que um outro belo dia o galinheiro novamente amanheceu violado.
O fazendeiro não quis julgar a raposa precipitadamente e seguiu sua rotina. A noite deixou os ovos para fora e ficou observando.
Viu quando a raposa veio e carregou seus ovos, voltando pouco tempo depois para entrar no galinheiro.
Ele pensou em pegar a espingarda mas não o fez. Esperou que a raposa saísse saciada deixando para trás ovos quebrados e penas espalhadas.
Foi dormir.
Na manhã seguinte pôs a mão na massa: reforçou bem a porta e as paredes do galinheiro de modo que a raposa nunca mais pudesse entrar.
Funcionou.
A noite ele ficou observando quando a raposa veio atrás de seus dois ovos habituais e, não os encontrando, tentou inutilmente entrar no galinheiro. Ela ainda apareceu nas noites seguintes, até que se deu conta de que a fonte secara.
Tinha de achar outro lugar para encher a barriga.
Andou e andou mata adentro até que achou um buraco num barranco. Pode ver dentro dele pq era uma noite clara de lua cheia e a visão muito lhe agradou.
Eram ovos e mais ovos!
Entrou e se empanturrou, comeu muito mais do que precisaria normalmente para compensar as noites de escassez.
Comeu tanto que teve de se deitar ali mesmo para descansar um pouco.
Estava tão morta que nem se dava conta: as cobras, verdadeiras donas do ninho, já a haviam cercado.
FIM

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